F29: Como tudo Começou.

Eu não lembro exatamente do dia, mas era fim de Setembro e eu podia quase tocar o céu. Tinha acabado de escolher o meu vestido de noiva e estava radiante com os preparativos do meu casamento; sabe quando a paz e a felicidade são tão intensas que por um segundo a vida até parece ser perfeita?!
Mas eu não tinha ilusões; sabia que coisas ruins ainda atravessariam o meu caminho e exatamente no final daquele mês incrível a maior dor entre todas que eu já havia sentido invadiu a minha casa, abalou todas as estruturas e destruiu tudo de bom que havia sido plantado ali.
A tristeza e escolhas insensatas da minha mãe viraram doença, doença essa que roubou  sua personalidade e a fez conhecer os demônios do seu próprio ser. As crises começaram lentas, tão lentas que quando percebi já não havia volta.
Falta de apetite, noites sem dormir, até não dormir mais, horas na frente do espelho, impaciência, desinteresse, mas quando eu perguntava sempre ouvia: - Eu sei cuidar muito bem da minha vida!
e assim desistia.
Um dia ela desmaiou no serviço, no outro ela teve uma crise de choro e foi levada as pressas pro hospital com tremedeira e falta de ar, no outro ela começou a dizer coisas sem sentidos, a ver pessoas mortas e ouvir vozes e por fim surtou de forma tão violenta que quase matou sua filha, bateu, xingou, gritou, ameaçou e de repente eu não conseguia enxergar a minha mãe ali, de repente eu me vi em um pesadelo no qual eu não podia acordar, tive que interna-la e assim foi primeiro o pronto socorro do Alexandre Zairo que a recusou, pois não tinha estrutura para aceitar um paciente em surto, Depois Marcelina que também fechou as portas, até que por fim o HC que nos acolheu em um momento onde não sabíamos o que pensar.
Ver a minha mãe amarrada e 15 kg mais magra, se recusando a se alimentar, a tomar banho, a viver e gritando que queria morrer, implorando que eu a tirasse daquele lugar, porque ela sentia medo; ah aquilo acabou comigo, eu sentia uma dor que me fazia andar até meio curvada. Mesmo assim eu continue trabalhando, afinal sou filha única e todas as responsabilidades vieram sobre mim e foi nesse momento que eu me vi sozinha, sem ninguém, sem abrigo, sem consolo, foi aí que eu conheci a dureza da vida. Minha mãe ficou internada uma semana no HC como não havia vaga no IPQ ( Instituto de Psiquiatria) eles procuraram uma vaga externa e a transferiram para a clínica Psiquiatra Nossa Senhora Do Caminho que ficava a cerca de 3 horas da minha casa e foi aí que a minha luta para salva-la começou.
Esqueci do meu casamento, dos sonhos, dos planos, de mim, fui atrás e pesquisei sobre o assunto, queria saber como uma pessoa saudável tanto fisicamente, quanto psicologicamente poderia ficar naquele estado? Queria saber o motivo e quais eram as chances de cura? O que realmente era aquilo?O que era aquele tal CID F29 que eram apresentados pelos médicos nos relatórios? E sem respostas eu embarquei na jornada mais sombria da minha vida, ao invés de culpar Deus por aquelas coisas horríveis, pedi a ele forças e ajuda e fui, sem saber pra onde, mas com apenas um objetivo: Trazer minha mãe de volta.    


- Mayara Evangelista

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